Conheça a trajetória de Marília Kipper Ribeiro, uma das homenageadas do Prêmio Ana Primavesi

Conheça a trajetória de Marília Kipper Ribeiro, uma das homenageadas do Prêmio Ana Primavesi

Foto: Beto Albert (Diário)


Em diversas trajetórias, o esforço, o exemplo e o apoio são citados como molas propulsoras para alcançar o sucesso. Na ciência, por exemplo, a combinação pode resultar em profissionais com atuações significativas nas áreas de pesquisa, ensino e extensão. Em um cenário como este, o Prêmio Ana Primavesi busca valorizar e apoiar ainda mais quem faz a diferença. Na primeira edição, a iniciativa promovida pelo Grupo Diário homenageará 10 mulheres no dia 31 de julho, no Theatro Treze de Maio. Entre elas, está a estudante do 3º ano do Ensino Médio, Marília Kipper Ribeiro. Com apenas 17 anos, ela já demonstra aptidão para pesquisa e sonha em seguir na área para ajudar outras pessoas. E uma das premiações do Ana Primavesi busca, justamente, incentivar a iniciação científica desde cedo.

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Família

Filha da cabeleireira e maquiadora, Annalidia Kiper, e do analista de sistemas, Alexandre Lemes Ribeiro, Marília Kipper Ribeiro nasceu em 1º de setembro de 2006, em Arroio do Tigre. No município com mais de 13 mil habitantes, cresceu cercada de carinho e muitos ensinamentos. 

– A minha infância foi muito boa e de muitas brincadeiras. Eu sempre pude contar com o meu vô e a minha avó maternos. Para a formação como estudante, meu avô Jorge foi importante. Era pintor e eu passava muitas tardes com ele nas férias. Ele ia pintar as escolas e eu ia junto. No tempo livre, ele me ensinava a ler e escrever, porque eu tive muita dificuldade. Então, hoje, publicar artigos e ser reconhecida pelo que eu faço tem um significado enorme. Significa que os esforços do meu vô valeram a pena. 

Dos momentos em família, Marília destaca ainda os domingos com churrasco e muita música. Comunicativa e muito amorosa, a estudante fala sobre a melhor parceira que a vida lhe deu: a irmã mais nova, Alanna Kipper Fetzer, de apenas 7 anos. Inseparáveis, elas crescem sobre o olhar atento de Annalidia, que também é uma referência para Marília. 

– Minha mãe e minha irmã são tudo para mim. Elas estão comigo todos os dias, quando eu choro, dou risada ou surto com o colégio. Às vezes, digo que aguento mais, e minha mãe me acalma, dizendo que vai dar tudo certo, porque já passou por isso. Ela sempre valorizou muito o conhecimento, porque teve que limpar banheiro para pagar o magistério, que na época, era diferente lá na minha cidade. Ela teve que fazer isso, e eu não tenho nenhuma vergonha de falar sobre. Na verdade, tenho muito orgulho, porque as oportunidades que eu tenho hoje e o conhecimento que adquiri foram por incentivo dela. Já minha irmã é minha bonequinha de porcelana. Ela gosta muito de desfilar, de gravar vídeos, e eu vejo ela seguindo por esse rumo. Com certeza, ela será grande – diz a jovem pesquisadora, orgulhosa.

Ensino

Em 2021, a família de Marília se mudou para Santa Maria. Na época, a adolescência tinha 15 anos e enfrentava mudanças nas interações por conta da pandemia de Covid-19. No ano seguinte, iniciou o Ensino Médio no Colégio G10. Durante o processo de fazer novos amigos e se habituar com a rotina, encontrou a ciência como aliada. No primeiro ano, Marília resolveu pesquisar sobre a saúde mental, aplicando um questionário para mais de 100 alunos de três diferentes instituições de ensino, tanto da rede público como da privada. 

– O trabalho sobre saúde mental dos estudantes pós-pandemia foi bem significativo para mim, porque tinha acabado de chegar em um colégio diferente e com pessoas que eu nunca tinha visto antes. Estavam todos de máscara e eu só via metade dos rostos. Durante a pesquisa que fiz dentro da minha escola, os estudantes se abriram. Falaram sobre vida, família e o que sentiram nesse período. Isso foi muito significativo para mim, porque também diz muito sobre a nossa saúde mental. Quando ela está em dia, isso se reflete nos estudos. Conseguimos ficar mais calmos e sermos mais produtivos – relembra. 

Após apresentar as evidências, Marília idealizou um “kit tranquilizante”, que acabou sendo adotado pela escola onde estuda. Apaixonada pela ciência, a estudante resolveu ir além e falar sobre mulheres na ciência. A experiência a inspirou a ser ainda mais: 

– No 2° ano, meu professor orientador trouxe uma proposta diferente, e eu estudei sobre várias mulheres na ciência. Mas Bertha Lutz foi um achado. Eu vi que precisava falar sobre ela, porque fez tantas coisas significativas na sociedade e não era muito lembrada na área. Depois que eu comecei a escrever sobre, apresentei o meu artigo na Moscling (Mostra Científica do Litoral Norte Gaúcho). Eu tenho um grande apreço pela ciência e pelas mulheres, assim como pelo tema saúde mental, porque, querendo ou não, tudo está ligado. Nós, mulheres, somos muitas vezes esquecidas, deixadas de lado pela sociedade, e isso influencia. Além de conhecer outros pesquisadores e equipes, as participações em eventos regionais e estaduais deram a Marília a possibilidade de vencer algumas barreiras comuns, como o medo e o nervosismo em apresentações. Conforme a estudante, quando duvida da própria capacidade, recorda-se de um conselho da mãe: 

– Às vezes, penso: “Será que é suficiente? Será que é um trabalho bom mesmo para estar aqui?”. 

E lembro de algo que a minha mãe sempre diz: “Faça tudo com amor”, e eu sigo isso. Tudo que faço é com amor. Com o 3° ano do Ensino Médio chegando ao fim, Marília já começa a fazer planos para o futuro. Alguns vão além da carreira profissional. 

– Eu quero entrar na faculdade esse ano ou no ano que vem e cursar Medicina. Quero também ter uma família linda e feliz, porque eu valorizo muito isso. Quero buscar a minha melhor versão que eu ainda não sei qual, mas sei que eu vou descobrir – conta a estudante, que deseja seguir pela área de pediatria.

 Para realizar esse sonho, Marília segue uma rotina de estudos intensa: 

– Eu estudo de manhã no colégio. De tarde, faço os trabalhos da escola e fico com a minha irmã em casa. De noite, tenho cursinho das 19h às 22h. Tem dias assim que me vejo exausta, porque não sou uma máquina (risos). Mas sei que vai valer a pena. Uma das coisas que a pesquisa sobre saúde mental entre estudantes ensinou a Marília é que a pressão pode ser uma inimiga, especialmente de quem está se esforçando ao máximo. Para evitar a situação, a estudante busca respirar fundo enquanto planeja o futuro: 

– Quando se está no terceiro ano, as pessoas acham que você precisa sair do Ensino Médio e já passar no vestibular. Só que não é assim. Eu, pelo menos, não vejo mais assim. No início do ano, eu estava muito focada. Hoje, entendo que tem pessoas que levam 5 anos ou mais para chegar lá e está tudo bem. Estou mais tranquila, sigo estudando e faço que eu posso nesse momento e com as oportunidades que eu tenho. Como muitos jovens, Marília sonha em conhecer o mundo. A possibilidade de dar continuidade aos estudos no Exterior não é descartada. 

– Uma coisa que sempre falo para a minha mãe é que quero viajar o mundo e conhecer todos os lugares possíveis. O mundo é muito vasto. Tem tantos lugares lindos, tantas culturas diferentes para aprendermos, e eu tenho o desejo de ver além do que posso. Na minha cidade, sempre brincamos que “o mundo acaba ali na serra”. Muitas das pessoas de lá são agricultores que vivem do campo, do plantio e da vida caseira. Quando eu era pequena, olhava vídeos, e eu falava que iria estudar em Harvard. Então, me vejo fazendo algum mestrado ou doutorado fora do país – afirma a pesquisadora.

Prêmio

Marília concorria com outras duas jovens na categoria Iniciação Científica do Prêmio Ana Primavesi. Para ela, que aprendeu um pouco mais sobre o papel das mulheres na ciência, a conquista é importante. 

– Foi uma grande emoção, porque na verdade, eu nem sabia que estava participando. Sou muito grata mesmo. Acho que eu chorei uns três dias, quando eu soube. Eu olhava para minha mãe e chorava, porque as mulheres indicadas são magníficas, e eu estou ao lado delas. Para mim, foi a valorização de algo muito importante na minha vida e na minha mãe, porque o conhecimento que tenho é reflexo das lutas dela e sinto que valeu a pena – comenta a jovem, confiante. 

O prêmio também permitiu que a adolescente refletisse mais sobre a área e o reconhecimento de profissionais femininas: 

– Acho que avançamos até certo ponto, porque o assédio ainda é muito grande dentro das escolas e universidades. É uma pauta deixada de lado ou as pessoas passam pano. Então, ainda temos muitas barreiras para quebrar. Eu não sei se a sociedade está preparada para a nova geração. Mas acho que terá que se preparar de alguma maneira, porque estamos chegando. Nós estamos alcançando o nosso espaço e merecemos muito. Acredito que esse prêmio vem para isso: incentivar as meninas a não desistirem, valorizarem os estudos e serem o melhor das próprias versões.





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